Ilha Anchieta - Ubatuba

 

15 de dezembro de 2005.

Chegamos na ilha às 9:00 hs, horário marcado com o Elton, que seria nosso guia em um passeio por algumas trilhas da Ilha Anchieta (o nome real da ilha nas cartas náuticas é ilha dos Porcos). Resolvemos primeiro fazer a trilha mais fácil: a trilha da represa, que levaria uns 20 minutos entre a ida e a volta. Esta trilha sobe até a represa que fica atrás do presídio e que é a responsável por parte da energia elétrica e da água potável usada na ilha. A trilha é fácil e a subida é leve. No alto, a recompensa: uma linda vista da baía interna da ilha, do antigo presídio, do continente e suas praias e da vegetação maravilhosa. Na volta da trilha, vimos um lindo pássaro e paramos no gerador hidrelétrico. As crianças ficaram surpresas com o pequeno tamanho do gerador. A energia elétrica usada na ilha é mista, ou seja, fornecida pelo gerador hidrelétrico e por painéis solares, que são distribuídos por todas as construções da ilha. Estas energias são limpas, ou seja, não geram resíduos poluentes (aproveitamos para conversar sobre isso ao longo do caminho).

Depois foi a vez da trilha do Saco Grande, que atravessa a ilha e passa por ruínas da vila e pelo antigo quartel. Vimos as ruínas de perto e o Elton ia explicando as falhas de segurança que haviam na época da rebelião. Após 30 minutos de caminhada, entre paradas para ver as ruínas, beber água e ver alguns bichos, chegamos ao outro lado da ilha. A vista é deslumbrante: ondas estourando nas pedras e ao longe víamos as ilhas das Palmas, Vitória, Búzios e a pontinha de nossa querida Ilhabela. Ficamos um tempo curtindo a paisagem e descansando para então iniciarmos a volta. Quando estávamos quase chegando nas ruínas, vimos dois quatis adultos e quatro filhotes atravessando a trilha. Chegamos perto deles, mas não conseguimos fotografar direito, pois os filhotes estavam assustados e não conseguiam subir nas árvores para chegar nas pedras onde seus pais estavam. Mas valeu olhar nos olhinhos brilhantes deles.

Voltando ao antigo presídio, fomos almoçar no barco para continuar o passeio na parte da tarde.

Foi então a vez da história do presídio. Elton nos explicou as diversas fases do presídio: correcional, político e de segurança máxima. Foi nesta última que houve uma grande rebelião, considerada uma das maiores do mundo na época. Os presidiários ganharam a confiança dos guardas ao longo do tempo e, numa estratégia muito bem elaborada, tomaram as armas e mataram vários guardas. Esperaram a balsa que transportava mantimentos chegar para fugir, mas esta atrasou. Eles começaram a beber as bebidas alcoólicas que acharam e isto acabou com a organização da rebelião. Colocaram fogo nos papéis que tinham o histórico de crimes de cada um deles e a fumaça fez com que a balsa, quando chegou, não parasse na ilha. Quando esta retornou, veio com 200 soldados armados e acabou com a rebelião. Alguns fugiram em outro barco pequeno do presídio, mas este, com superlotação, quase afundou, fazendo com que muitos presos fossem jogados na água, infestada de tubarões, pelos companheiros.

Poder escutar esta história vendo o presídio, seus alojamentos deteriorados pelo tempo e imaginando as condições que presidiários e guardas tinham na ilha é fantástico. É reviver a história triste de nossos presídios.

Ao fim do passeio, convidamos o Elton para conhecer nosso barco e comer uma lata de pêssego em calda conosco. Demos a ele uma carona até o continente e nos despedimos deste novo amigo que nos tratou tão bem. Nosso muito obrigado também a Viviane, diretora do Parque Estadual da Ilha Anchieta, simpatissíssima, que abriu as portas do parque para nós e nos falou dos excelentes planos para melhorar e estruturar ainda mais o parque.